Tagarelando... Confiar? É difícil!
Tagarelando... Confiar? É
difícil!
Essa é a primeira vez em que vou
escrever sobre mim, sobre a minha vida, sobre a pessoa que sou por trás do
pseudônimo sofisticado, da cor de cabelo tingida, da maquiagem bem feita...
Primeira vez em que não vou inventar personagens ou imaginar situações. A fonte
da inspiração aqui, dessa vez, sou eu mesma... E por mais estranho que possa
parecer, esta é a primeira vez em que
falarei abertamente sobre algumas quedas...
Quedas feias, e que me deixaram cicatrizes tão profundas, que vez ou outra,
ainda ardem.
Para início de conversa, vou
abordar um tópico muito ‘clichê’ por aqui, quem é que nunca, quando era
criança, teve o seu herói? Quem é que nunca admirou tanto alguém, a ponto de
criar em seu imaginativo, uma pessoa indestrutível, um herói de aço, alguém sem
fraquezas e capaz de carregar o mundo inteiro em suas mãos sem nem ao menos
suar? Pois bem, eu tive o meu herói.
Tinha só cinco anos de idade,
quando meus pais resolveram se separar... Era o tipo de garota mimada que
cativava a atenção de todos e que conseguia tudo o que queria só em fazer birra...
Estava acostumada a ser paparicada por todos os lados e ai ‘BOOM’, veio a tal
da separação. Eu iria morar com a minha mãe, em uma outra casa, enquanto meu
pai ficaria ali, no castelo que sempre fora meu. Onde eu costumava reinar todos
os dias desde o meu nascimento. Não entendi nada na época e só cheguei a
entender de fato os reais motivos daquilo tudo, alguns anos depois.
Meu pai tinha problemas com
álcool, isso ai, ele era um alcoólatra, e não merecia nem de longe uma mulher
como a minha mãe, que sempre foi uma guerreira. Sempre batalhou e lutou pelo
que quis... Ao contrário dele, que achava que tudo ia cair do céu, uma hora ou
outra. Que era só sentar e estender os braços. Mas eu era criança, não conseguia
ver e nem dar ouvidos à mais ninguém, porque afinal... Aquele era o meu herói.
Ninguém conhecia ele melhor do que eu.
Quando me mudei de cidade, por
motivos que um dia prometo contar, escrevia cartas para ele quase todos os dias...
Ele me respondia, as vezes... E esse
‘as vezes’ começou a se tornar cada vez mais raro com o passar dos anos. Ele
não me ligava para desejar feliz natal, feliz ano novo, feliz aniversário,
feliz dia das crianças e por causa dele, todos esses ‘felizes’ acabaram se
tornando tristes.
Eu o via, uma ou duas vezes no
ano. E aquilo estava acabando comigo. Sofri depressão por um longo período
durante a minha infância, precisando frequentar logo cedo, uma psicóloga para
conversar e descobrir o porquê de a garota ‘do castelo’ ter se tornado tão
quieta e tão calada... A ponto de não conseguir fazer amigos na escola e nem em
lugar nenhum.
Eu tinha o meu padrasto é claro,
o pai do meu irmão. E o pai com quem eu brigava todos os dias. Queria fazê-lo
entender que ele jamais ocuparia o lugar do meu até então herói. Me revoltei.
Briguei com as pessoas que realmente se importavam comigo para defender uma,
que não estava nem aí. Que havia abdicado de vez, o seu lugar em minha vida.
Foi no natal. Em uma ligação. A
única que ele me fez em muito tempo, porque estava previsto que eu iria
visita-lo no natal, pois é, ele só ligou para dizer que não iria ir me buscar.
E eu de malas prontas e lágrimas nos olhos o ouvi dizer que agora ele tinha
‘sua família’ e que eu precisava deixar de pensar apenas em mim e tentar
entender. Mas eu nunca pensei em mim. E pelo contrário, sempre tentei ver o
lado dele. Tentar cobrir os furos que ele deixava em meu coração.
Ele me magoou muitas outras vezes
mais, antes de eu finalmente perceber que aquele herói era uma verdadeira
farsa. O herói de verdade esteve ao meu lado o tempo inteiro, se defendendo da
minha raiva, me tratando com carinho, me abraçando e passando comigo todos os
dias ‘felizes’. O meu verdadeiro pai, meu padrasto.
Quem me ajudou. Quem realmente
esteve ao meu lado. E quem Deus colocou na minha vida.
Este ano fazem cinco anos desde a
última vez em que eu o vi. Aquele herói falido, sem cor e sem graça. Cinco anos
desde a última vez em que o chamei de pai.
Ainda dói. Ainda sinto um leve
rancor, ainda sinto medo... Passei mais um aniversário ao lado do telefone, esperando
a ligação que eu sei que nunca vai acontecer. Mas tudo bem, tudo bem.
A vida passa e vai mostrando,
quem realmente veio para ficar.
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