[RESENHA] As Mentiras de Locke Lamora - Scotti Lynch
AS MENTIRAS DE LOCKE LAMORA – SCOTT LYNCH
O Espinho é uma figura lendária: um espadachim imbatível, um
especialista em roubos vultosos, um fantasma que atravessa paredes. Metade da
excêntrica cidade de Camorr acredita que ele seja defensor dos pobres, enquanto
o restante o considera apenas uma invencionice ridícula.
Franzino, azarado no amor e sem
nenhuma habilidade com a espada, Locke Lamora é o homem por trás do fabuloso
Espinho, cujas façanhas alcançaram uma fama indesejada. Ele de fato rouba dos
ricos (de quem mais valeria a pena roubar?), mas os pobres não veem nem a cor
do dinheiro conquistado com os golpes, que vai todo para os bolsos de Locke e
de seus comparsas: os Nobres Vigaristas.
O único lar do astuto grupo é o
submundo da antiquíssima Camorr, que começa a ser assolado por um misterioso
assassino com poder de superar até mesmo o Espinho. Matando líderes de gangues,
ele instaura uma guerra clandestina e ameaça mergulhar a cidade em um banho de
sangue. Preso em uma armadilha sinistra, Locke e seus amigos terão sua lealdade
e inteligência testadas ao máximo e precisarão lutar para sobreviver.
Este foi um
dos livros cuja leitura mais procrastinei nos últimos tempos, isto é, eu adiei
tanto ler ‘As mentiras de Locke Lamora’ que chego a sentir peso na consciência.
Ainda mais depois de descobrir que ao contrário do que eu imaginava, este livro
não tem nada de chato ou clichê. Confesso que os primeiros capítulos são um
pouquinho cansativos, com uma narrativa descritiva demais e com algumas
passagens desnecessárias, porém, depois de ler as primeiras 20 páginas, comecei
a gostar tanto do livro que não queria largar mais. Você logo vai saber
porquê...
O livro
conta a história de Locke Lamora e de seus amigos e cumplices também conhecidos
como ‘Nobres Vigaristas’, grandes ladrões que desde crianças foram ‘adotados ou
nos termos do livro vendidos’ pelo padre
Correntes para servir à estes propósitos e se tornarem a gangue mais engenhosa
de Camorr. O próprio padre roubava à maneira que podia, enganando os fiéis ao
fingir ser um cego e pobre sacerdote de Perelandro enquanto que no subterrâneo
do templo, vivia em verdadeiro luxo. Locke, vendido para o Padre quando ainda
tinha 5 ou 6 anos de idade, a preço de banana, já havia aprontado mais do que o
aliciador (personagem repugnante que comprava as crianças pobres e as
escravizava segundo seus próprios padrões para que roubassem para ele) podia
suportar. Já ameaçara até mesmo quebrar o acordo de paz que mantinha Camorr longe
de conflitos.
“A regra de Locke Lamora era a seguinte: uma boa
trapaça exigia três meses de preparação, três semanas de ensaio e três segundos
para ganhar ou perder para sempre a confiança da vítima. Dessa vez, ele
pretendia passar esses três segundos sendo esganado.” Página 32
A história é
dividida entre os relatos que de fato estão acontecendo no livro e os
‘Interlúdios’ ou seja, os relatos da infância de Locke e lições do padre
Correntes para com os Nobres Vigaristas. Ou seja, tudo começa, com mais um
grandioso golpe de Locke e seus amigos para arrancar uma enorme quantia em
dinheiro dos nobres de Camorr. Os escolhidos dessa vez, Dom e Dona Salvara.
Locke, é simplesmente o melhor quando o assunto é mentir, enganar e se
disfarçar e por isso, usa das suas melhores habilidades e recursos para se
tornar Lukas Fehrwight, um negociador da Casa de Bel Auster, comércio
responsável pela produção do famoso e valioso conhaque de Austershalin.
Camorr está
sendo comandada por Capa Barsavi, desde que o mesmo tomou o poder e o fechou
com Duque Nicovanti, o ‘Acordo de paz’. Capa Barsavi é simplesmente o ‘poderoso
chefão’ da história, que lidera mais de 100 gangues, e recebe uma porcentagem
de tudo que as mesmas conseguem através do roubo. O que Capa Barsavi fala é
lei, e todo aquele que o contraria acaba sendo morto. Mesmo assim os Nobres
Vigaristas conseguem encontrar uma ‘brecha’ para que ninguém desconfie de seus
grandes feitos. Então para todos os efeitos, os Nobres Vigaristas não passam de
ladrõezinhos inúteis e o ‘Espinho’ – ou simplesmente Locke Lamora – ainda é
apenas uma lenda para os cidadãos de Camorr.
No entanto,
a história de verdade, começa quando um outro ‘chefão’ passa a querer tirar
Capa Barsavi do poder à todo custo. O Rei Cinza é um grande mistério para
todos, e o cerco está se fechando para todos os garristas – líderes de gangue –
de Camorr, que um a um, vão sendo executados.
" _ Bom. Talvez eu
estivesse embriagada e mandona naquele dia, mas hoje estou só mandona. Papai
está muito mal Locke. Eu queria vê-lo antes de você ter a sua conversa: ele
quer falar com você sobre... uns assuntos. Independentemente do que ele pedir,
não quero que você... por mim... Bom, por favor, diga sim e pronto. Agrade-o.
_ Nenhum garrista que ame
a própria vida ousou fazer outra coisa. [...] Página 146, 147
A história é
incrível e me deixou sem ar do começo ao fim, fiquei muito triste por ter
perdido vários dos meus personagens favoritos ao longo da história, mas mesmo
assim considero esta como sendo uma das melhores leituras do ano.
Sem esquecer
de falar que o próprio George R. R. Martin recomendou a obra, né? A escrita de
Scott Lynch é uma maravilhosa descoberta da literatura fantástica. Apesar de o
livro ser grande, a leitura flui rápido. Os personagens são muito bem
construídos e explorados durante a trama. O único ponto de interrogação que
ficou na minha cabeça foi sobre a quinta integrante dos Nobres Vigaristas
‘Sabeta’ que também me parece ser o grande amor da vida de Locke e que não
apareceu nenhuma vez neste livro.
A revisão,
diagramação e capa da obra estão incríveis e no mais, apenas recomendo. Esta é
uma leitura da qual certamente você não irá se arrepender!
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